Estratégia de ‘desconstruir’ Aécio dá certo e Dilma é reeleita presidente do Brasil
Por Marcela Balbino, repórter do Blog de Jamildo.
Considerada a campanha eleitoral mais carente de propostas e farta de ataques desde a redemocratização do País, o pleito de 2014 ganhou contornos trágicos com a morte do ex-governador Eduardo Campos, inesperados e até mesmo violentos. O embate entre os dois candidatos que disputavam à Presidência do Brasil neste segundo turno – Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) – ganhou capítulos vexatórios para a história política brasileira. Esta foi a eleição mais acirrada da história do País.
Abertas as urnas neste domingo (26), a petista sagrou-se vitoriosa com 51,64% dos votos, o que significa que 54,5 milhões de eleitores brasileiros deram nova oportunidade da presidente capitanear a nação. O tucano recebeu 51 milhões de votos, o equivalente a 48,36% do total. A vitória chegou, mas os erros e acertos do processo são elementos essenciais para entender o enredo da campanha eleitoral.
A presidente Dilma Rousseff (PT) teve em 2014 a vitória mais acirrada desde a redemocratização do Brasil. Apenas 3,4 milhões de votos a separaram do segundo colocado na corrida presidencial, o senador mineiro Aécio Neves (PSDB).
Com o reforço do ex-presidente Lula nos atos políticos pelo Brasil e o protagonismo assumido pela militância do PT neste segundo turno, Dilma ganhou novo fôlego. Mas o êxito eleitoral, apontam interlocutores da petista, foi a estratégia de “desconstruir” a imagem do adversário Aécio Neves , apontando contradições no discurso e devassando a vida pessoal do oponente. Sem falar da estratégia do medo, adotada contra Marina no primeiro turno e, posteriormente, transferida para o tucano.
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Os marqueteiros de Dilma teceram uma estratégia para bombardear a promessa de Aécio Neves de manter o Bolsa Família e outros projetos sociais. Discursos e artigos do tucano e de seus aliados com críticas aos programas lançados desde o governo Lula foram compilados para confrontar com as falas do postulante. O objetivo era tachar o adversário de elitista e tentar atrair os eleitores mais pobres de Marina Silva.
O PT lançou mão de um artigo publicado por José Serra, em 2004, em que ele dizia que o Bolsa Família é “assistencialista” e chama o projeto de “Bolsa Esmola”.
A tônica que seria adotada pela equipe de Dilma se fez presente desde a retomada do horário eleitoral. “A gente tem um lado, eles têm o deles”, dizia uma peça de rádio, acrescentando que “nos governos do PSDB sempre foi arrocho e desemprego”. “Eles querem voltar ao passado”, finalizava o narrador.
A estratégia do PT já tinha dado certo contra Marina Silva no primeiro turno, enquanto isso os estrategistas de Aécio ‘batiam cabeça’ analisando se o mais prudente era rebater as críticas ou relevar, como fez Marina, que “ofereceu a outra face”.
A crise hídrica em São Paulo, que tem o tucano Geraldo Alckmin no governo, também veio à tona como ponto negativo para Aécio. Foi a chance para Dilma trazer o debate para o presente na comparação com o governo do PSDB.
Em Goiana, Zona da Mata de Pernambuco, na última semana de campanha, Lula elevou o tom do discurso e tachou Aécio de machista. No Recife, chamou o adversário de “filhinho de papai”.
VEJA GALERIA DA CAMPANHA DE DILMA ROUSSEFF:
“Fico incomodado quando vejo nos debates o adversário ofendendo a presidente Dilma, chamando-a de leviana e mentirosa”, disse o ex-presidente, sendo aplaudido pela plateia a cada estocada no tucano. “Só pode fazer isso alguém que não recebeu educação no berço, com o seu pai e sua mãe. Uma pessoa assim não pode governar o Brasil”, disparou. “Será que ele teria coragem de fazer as grosserias que faz com você se tivesse um homem na frente dele?”, questionava Lula, olhando para Dilma.
No Recife, Lula comparou as agressões feitas pelos tucanos durante a campanha aos “nazistas na Seguda Guerra”. “De vez em quando, parece que estão agredindo a gente como os nazistas agrediam no tempo da Segunda Guerra Mundial”, disse Lula, ao lado da presidente Dilma Rousseff (PT) sobre um trio elétrico no centro do Recife, para um público de 52 mil pessoas, segundo a organização do evento.
Ainda dentro da estratégia de minar a candidatura do oponente tucano, a equipe de campanha de Dilma fez um levantamento apontando os “fracassos” na segurança pública e na educação em Minas Gerais, estado no qual Aécio governou durante oito anos. No primeiro turno, a petista teve maioria dos votos (44,26%) na região.
Em reserva, petistas avaliaram que o acirramento do discurso de Lula foi fundamental para reacender a militância na reta final da eleição.
Mais uma vez ponto para o marqueteiro do PT, João Santana. Ele conseguiu reverter o discurso agressivo adotado pelo partido contra Aécio.
VITRINES – As obras realizadas com recursos do governo federal, amplamente defendidas nos debates eleitorais, mas pouco divulgadas durante os três primeiros anos da gestão Dilma, ganharam carga extra na reta final da campanha.
O programa Minha Casa, Minha Vida, por exemplo, tornou-se principal vitrine nas últimas semanas.Três ministros desembarcaram em Pernambuco para realizar a entrega de 1.920 casas populares. Inevitavelmente, os eventos eram repletos de elogios à petista e ao investimento da União em moradia popular.
À frente dos discursos figuraram os ministros Gilberto Occhi (Cidades) e Miriam Belchior (Planejamento). Nas últimas três semanas, eles visitaram 21 cidades e entregaram ou assinaram contratos para a construção de mais de 16 mil apartamentos. O ministro da Integração, Francisco Teixeira, também desembarcou em terras pernambucanas para vistoriar as obras da transposição do Rio São Francisco.
Outra estratégia para reduzir a rejeição da classe média foi investir na divulgação de programas sociais como Pronatec e ProUni. O tema era recorrente em todos os debates em que Dilma participou no segundo turno. O objetivo: mostrar que as iniciativas são direito da população e não privilégio.
De candidata apadrinhada por Lula em 2010, Dilma ganhou luz própria, apesar do necessário reforço do padrinho político no fim da campanha. Resta saber se a vitória será atribuída aos esforços da candidata ou à “forcinha” do ex-presidente.
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